domingo, 5 de junho de 2016

Sonho.

Sim, eu sonho muito. 
E esse é um dos meus sonhos, nu e cru.:)

Seja bem vindo aos meus devaneios da madrugada




-E aí?

Foi o que eu ouvi da boca daquele rapaz, seguido de um sorrisão estilo colgate.
Não, não quero compartilhar risadinhas, to frustrada, to chateada e to olhando uma coisa mais inconstante que eu, o mar.
-Nada- virei bruscamente pra deixar claro que não tava afim de papo
Pra completar, o guri estava chutando com uma bola de futebol. Num bar. Tem que ser muito sorriso e pouco olho pra não perceber que não dá certo.
Assim que acabei de ter esses pensamentos, vejo uma correria mais abaixo do lugar onde eu estava. Já pertinho do mar. Daquelas correrias de se assustar, de temer pela sua vida independente do significado dela. Uma correria só não mais poderosa do que vinha atrás dela O MAR!
Na ânsia de correr, eu não sabia pra qual lado, acabei cruzando meu olhar com outro, tão intenso e verde EXATAMENTE como o mar, o rapaz sorridente. Ele largou aquela estupida bola, correu em minha direção, pegou minha mão e disse:
-Vem. – Pelo visto ele sabia outra palavra
Eu não pensei em mais nada. Não sabia o que estava acontecendo. O desejo de sobreviver sem sequelas do que quer que fosse gritou mais alto, o olhar dele me puxou pra ele. E fomos atingidos.
Uma onda quebrou em cima de nós, uma alga ficou presa na minha cara; Uma tsunami? Uma micro tsunami? Um fenômeno único? Magia? Loucura? Não sabia o que estava acontecendo, apenas sentia medo.
 A praia estava estranha. As ondas se formavam altas e quebravam aos nossos pés ou em cima de nós, mas não nos machucavam, elas eram leves, como um dono passando a mão na cabeça de um gato. Não machucava, e meu medo acabou se dissolvendo por causa da presença constante daquele guri;
Eu meio que resolvi continuar andando na orla e ele de mãos dadas me acompanhou, fiquei curiosa quis ver se isso era em toda a costa.
E me vi, me descobri me divertindo com o Sr. dentes em meio a um fenômeno completamente anormal. Rindo! Rindo da água que caia sobre nós, e da água que não alcançava nossos pés.
Até que encontramos “amigas” minhas, as quais tinham me humilhado ha cinco minutos antes do Sr. Dentes aparecer. Elas corriam pra lá e pra cá, semi-nuas, como deve ser normal numa praia pra todo mundo, menos pra mim.  Elas me viram, mas não me enxergaram, enxergaram apenas a minha companhia, e correram pra cima de “nós” balançando as tetas em seus micro-biquinis.
Lembro claramente meus desejos nesse momento: uma real tsunami, areia praiana movediça, uma alga carnívora, uma tsunami de areia, ou apenas que enforcar as três não fosse crime.
Fui escanteada pelas três que se derreteram em cima do meu “parceiro”, com frases como: “um homem finalmente!”; “ah! Como é bom um homem que possa nos acalmar”. Blá Blá Blá, eu já tinha ouvido o suficiente, Dentão que se fodesse se entrasse na brincadeira delas, ia acordar no outro dia sem um real no bolso, sem uma roupa no corpo e dopadão. Eu mal tinha dado as costas quando eu senti a mão dele na minha.
-Vamos sair daqui, vem. – e VOUSHHH, bem na hora uma onda que mais parecia um chicote de água atingiu e derrubou as três. Eu ri, me senti badass, me senti especial. O mar conspirava ao meu favor!
E ele me levou.
Me descobri unida aquele rapaz, rezei aos deuses que nos mantivessem unidos pelo menos enquanto aquele evento bizarro durasse. Até que findou. Só findou.
Eu falei a ele que precisava ir.
Ele se ofereceu pra me acompanhar.
Fiquei com vergonha, afinal de contas nunca tinha dito em primeira mão que precisava de ajuda pra algo.
Mesmo assim ele o fez 
Voltamos vendo o estrago do evento.
Gente se acalmando.
Ladrões se aproveitando.
Gente pelada
Guri longe da mãe
Peixe fora d’agua
Voltamos chutando as latinhas, sacolas, caixas e eu tive uma crise de fofismo, é, quando você resolve ser fofo em excesso, vi um peixinho se debatendo ainda vivo e eu resolvi que ia colocar ele de volta no mar. Sr Dentes pelo jeito tinha olhos, porque ele só olhou.
Chegamos ao nosso ponto de encontro e de desencontro. Eu só pensava em ir pra casa, me enroscar e dormir igual um panda...
-Sabe, eu estava com medo de não conseguir. Achei a força necessária quando você aceitou vir comigo.- ele me arrancou dos devaneios com minha cama
-Não precisa temer nad..- comecei a responder, mas quando olhei nos olhos dele pela terceira vez, eu fiquei presa, me aproximei delicadamente, rompendo barreiras invisíveis, eu só queria, sabe? Queria dar um obrigada diferente. Ainda presa por aqueles olhos verdes, me forcei a fechar os meus e o beijei. Senti seu cabelo molhado no meu rosto, senti calor nos seus lábios finos, senti delicadeza naquele corpo rude. Senti a contradição do mar. A doçura do seu beijo, salgado por agua do mar, com cheiro de amanhã.
Ele se afastou, assim, do nada, em seguida olhou pra mim e disse:
-Se você quiser, vem.- e me guiou pra perto do mar. Perto da calmaria que sucedeu ao caos, mais calmo ainda, pelo fato que todo mundo evitava.
Ele me beijou, dessa vez, me virou e colocou em torno do meu pescoço um colar que ele usava feito de alguma espécie de coral, me deu uma alga colorida que parecia jujuba e disse:
-Se você desejar... Vem.
Entrou no mar, enquanto eu observada embasbacada suas pernas virarem algo único. Uma cauda? E seu sorriso ficar pontudo. Eu não sabia que magica era aquela... Era realmente uma cauda! Estava submerso, mas eu via! Era vermelho sangue, brilhante e lindo.
E eu desejei. 
Num impulso maluco eu enfiei a jujubalga na boca enquanto me encaminhava para o mar.
Minhas pernas foram se unindo.
Mas eu só olhava o sorriso dele.
Meus braços criaram nadadeiras
E eu estava presa por seu olhar
Meu pescoço abriu uma guelra
E ele pegou minha mão.
Meus dentes ficaram pontudos
E ele disse:
-Meu medo era de você não vir. A propósito, nunca pensei que verde realmente fosse sua cor preferida- disse apontando pra minha cauda
Eu peguei na mão dele. Que agora possuía uma pequena nadadeira igual a minha. E disse:
-Eu sempre vou- E nosso terceiro beijo aconteceu
-Vamos?- E eu já estava quase concordando quando perguntei meio absorta.
-Como você disse que se chama?
-Você ainda não descobriu Hanna?–riu- Fiz um show com esse mar pra te impressionar. 
Enquanto eu me engasgava pra pronunciar o nome dele, ele falava o meu tão facilmente. Sorri, finalmente aceitando, finalmente entendendo.
- Esperei você vir por séculos, garota. Tive que vir te buscar. 
E mergulhamos. Eu tinha nascido pra isso. 

E até hoje, séculos depois, Poseidon nunca soltou minha mão. E sempre que ele chama, eu vou com ele.
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